Nalgumas calçadas do centro de Florianópolis, que é por onde tenho mais circulado nestes recentes 15 anos, índios têm sido abandonados em paz. Abandonados porque deixados em paz nunca ocorreu desde que Cabral, por necessidades de um povo d’além mar que nem imaginava que já havia um povo d’aquém mar, ESTUPROU AS ÍNDIAS da tal Terra Brasilis. Obviamente, tal fato não é privilégio de Florianópolis. Cito a cidade para dar um pouco de concretude à cena. Creio que o mesmo se dá em outras cidades e vilas brasileiras, nas quais a sociedade local suporta-os sentados nas calçadas, juntamente com suas crianças, oferecendo seu artesanato aos passantes que quase não os notam.
Assim como acontece nessas calçadas, Sônia amamentava Vítor – além de existir, índios também têm nomes – na rodoviária de Imbituba - SC, quando um rapaz aproximou-se e fez uma carícia no rosto da criança. Embora seja raríssimo um branco tratar bem os índios, Sônia acreditou que iriam ganhar algum presente. De repente, Matheus, o rapaz, sacou um estilete e cortou a garganta de Vítor.
Posto que a Vida é processo e não sequencia de efemérides, como soe acreditar os fãs de almanaques tipo fontoura, o assassinato da criança kaingang, não começou nem foi concluído no instante em que alguém cortou-lhe a garganta. Quem já leu algum dos textos de FREI BARTOLOMÉ DE LAS CASAS sabe que este tipo de encontro entre branco e índios tem acontecido desde que Colombo invadiu o continente que passou a se chamar América.
Sintomático também é este trecho do DISCURSO do deputado Fernando Furtado (PCdoB-MA):
"Lá em Brasília o Arnaldo viu, os índios tudo de camisetinha, tudo arrumadinho, com flechinha, tudo um bando de viadinho. Tinha uns três que eram viado, que eu tenho certeza, viado. Eu não sabia que tinha índio viado, fui saber naquele dia em Brasília. Então é desse jeito que tá. Como é que índio consegue ser viado, ser baitola e não consegue produzir? Negativo..."
Entretanto, há um detalhe a ser considerado neste acontecimento em Imbituba: segundo o delegado que investiga o caso não há indícios de motivação étnica. Longe de mim defender quem quer que seja, até porque temos uma pessoa que morreu e outra que matou. Porém, a postagem de Renan Antunes de Oliveira no DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO deixou-me com a impressão de que Matheus foi conduzido pela própria família, que foi conduzida pela Sociedade à qual pertence, a um beco sem saída. Talvez o tenha incomodado ver uma criança recebendo algo que não lhe foi oferecido.
"Lá em Brasília o Arnaldo viu, os índios tudo de camisetinha, tudo arrumadinho, com flechinha, tudo um bando de viadinho. Tinha uns três que eram viado, que eu tenho certeza, viado. Eu não sabia que tinha índio viado, fui saber naquele dia em Brasília. Então é desse jeito que tá. Como é que índio consegue ser viado, ser baitola e não consegue produzir? Negativo..."
Entretanto, há um detalhe a ser considerado neste acontecimento em Imbituba: segundo o delegado que investiga o caso não há indícios de motivação étnica. Longe de mim defender quem quer que seja, até porque temos uma pessoa que morreu e outra que matou. Porém, a postagem de Renan Antunes de Oliveira no DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO deixou-me com a impressão de que Matheus foi conduzido pela própria família, que foi conduzida pela Sociedade à qual pertence, a um beco sem saída. Talvez o tenha incomodado ver uma criança recebendo algo que não lhe foi oferecido.
Refletindo sobre a maneira como a Sociedade procura tanger seus membros cheguei ao LINCHAMENTO daquela dona de casa. Linchamento este construído e incentivado pelas tais redes sociais. Mesmas redes sociais nas quais é rotineiro ler postagens que revelam desejos de que fulan(a)o ou sicrano(a) morram da pior forma possível. Redes que, às vezes, mais se assemelham às fogueiras e forcas que ornavam cidades e vilas ao tempo da Inquisição.
Como sugestão de trilha sonora pós-leitura, sugiro esta atualíssima canção de VINNIE JAMES. Principalmente, pelo refrão.
Ps. 1 – recomendo, a quem quiser refletir um pouco mais sobre como temos tratado os índios, a leitura do artigo 1500, O ANO QUE NÃO TERMINOU, de Eliane Brum.
Ps. 2 – a FOTO é de Gabriel Felipe.
Ps. 3 – saiba mais sobre o assunto clicando nos HYPERLINKS (palavras realçadas).