
Não deu!
Acabo de receber via TV, este trem que os intelectuais e os desavisados adoram chamar de alienante (neste exato momento, Mestre Pinsky mais dois estão discutindo éticas e otras cositas más no programa do impoluto William Waack, com base no escândalo Calheiros), uma overdose de crueldade: uma entrevista com a Rosie Marie Muraro (fantástica!) e um documentário sobre visitas familiares e/ou íntimas (intímas?!) a seus maridos, namorados e filhos. Incomodei-me e mudei de idéia e aí vai um poema que escrevi quando morava no Cassino. Havia assistido um Globo Repórter sobre prisioneiras do Talavera Bruce, presídio feminino carioca. Quando acabou o programa meu cérebro de castanha ficou a matutar: “como estas gurias mantêm a vida, mesmo com a sociedade desejando ardentemente a sua morte!”
A foto, "emprestei" de autoria de Genna Naccache.
Aí vai o fruto. Bom divertimento.
Aí vai o fruto. Bom divertimento.
TAL É VERO?
1. A SOLIDÃO É A MASMORRA
ao seu modo
conseguiu alforria
mas o pesado portão ainda lá estava
a obstruir o curso da vida
à espreita
um cupido anarquista
não resistiu
em prantos
bêbada e feliz
entregou-se
abraços beijos
o coração a conduzir o corpo
eterno escravo da paixão
ninguém entendeu:
“- por uma mulher?!”
para boa amante
meio olhar basta
2. “JÚLIA ROBERTS”
decididamente
a vida não é “O FILME”
woo não há
bruce não invadirá talavera
tronitruante
grades flutuando em câmera lenta
na tela
o sorriso largo
insiste
em manter o corpo
no balão de esperança
na película
o orgulho da pátria madastra
a cor vendida em verso & prosa
correndo o mundo
em catálogos de agências de viagens
sangram 24 quadros por segundo
3. KABUKI
toda manhã
pacientemente
o senhor de tudo e todos
tece fio por fio
em prata:
alguma ruga nova insinua-se
toda manhã é a mesma
sobre o caixote de maçã
espelho
pincéis tintas
potes bastões tesouras pinças:
a arte e o ofício
de estancar o tempo
por fim
o lápis
traça o contorno dos lábios
aprisionando o batom
resguardando a sede
sob a pintura
a vida retesada
lá fora
a vida continua?
(às borboletas
que do Talavera Bruce
já não podem)
Cassino, 95