03 outubro, 2008

EXISTE POLÍTICA PARA ALÉM DO VOTO?

O cumpadre Juliano (deve ser parente daquele lá das Ligas...) me manda entrevista dada à Agência de Notícias Anarquistas sobre o filme “EXISTE POLÍTICA PARA ALÉM DO VOTO?”.
Como gosto de uma briguinha, o trem segue do jeito que veio.
E aí, torcida brasileira?
Daqui pra baixo é com ele:

E aí Chassa, tudo beleza?
Como havia lhe dito...
Aproveito pra te repassar uma entrevista feita conosco pela Agência de Notícias Anarquistas, sobre o Filme.
Poendo repassar e difundir esta entrevista aos seus contatos agradeço! Pois assim estará colaborando na guerrilha de distribuição direta do mesmo...
Abraços, Axé, Arte e Anarquia!
Juliano

O período de alienação e propaganda eleitoral para a escolha de prefeitos e vereadores em todo o Brasil já começou. Programas, slogans e discursos já estão sendo bombardeados em todo o País oferecendo o "paraíso". Vote X e terá transporte gratuito. Vote Y e terá saúde. Vote W e os impostos diminuirão. Etc. Etc. Etc. O/as anarquistas recusam-se a fornecer tais cantinelas, a cair no mero jogo de palavras, do charlatanismo político. Além de uma desonestidade, ele/as acreditam que ninguém tem a solução na manga para resolver todos os problemas da sociedade. No documentário Existe Política Além do Voto?, os autores nos chamam à reflexão crítica sobre o estrume eleitoral. A ANA teve uma conversa rápida com um dos realizadores do vídeo. Leia a seguir.

Agência de Notícias Anarquistas: Sobre o vídeo de vocês "Existe Política Além do Voto?", falem um pouco a respeito, do que se trata, quais os objetivos de produzi-lo...
Juliano Gonçalves da Silva: O Existe Política Além do Voto? busca responder uma dúvida existencial: será que tudo que existe é sagrado e não deve ser mudado ou revisto justamente por ter sido sempre assim ou pelo contrário tudo deve ser dito, rediscutido e desconstruído pra estruturação de uma melhor vida social coletiva? Os objetivos foram o de utilizar as novas técnicas da comunicação a favor da Anarquia, propiciando uma ferramenta de inserção social e um diálogo mais fluído com o povo, na medida em que grande parte da população brasileira é analfabeta, e por outro lado tem uma alfabetização visual (graças até a rede Bobo e seu padrão de "qualidade") e cultura oral de ampla tradição. Além disso, a produção do documentário visava conformar mais um dos diversos materiais que coletivamente produzimos nas ultimas eleições pelo Comitê Agora é Luta!, composto entre outros pelo grupo Rusga Libertária para a campanha: Não vote, Anule, Lute! Que incluía panfletos, cartazes, pixações-graffitagem, artigos em jornais, debates, camisetas e santinhos em Cuiabá/Mato Grosso.

ANA: E o que motivou vocês a fazerem o vídeo?
Juliano: A visão de que arte tem uma função na sociedade e que esta pode ser inclusive a de questionar os elementos sagrados da própria sociedade. Eu particularmente estava com o lema de uma idéia na cabeça e uma câmera na mão, além do compromisso e engajamento do cinema com a transformação da sociedade. Isto junto com o a crítica a institucionalização estatal cinemanovista no Brasil e os elementos sarcásticos e anárquicos do cinema marginal cujo lema é se não pode mudar, então vamos avacalhar. Cabe ressaltar que fazer cinema no Brasil é algo muito difícil e fazer cinema sem dinheiro público e autonomamente então nem se diga. Os grupinhos que ficam atrás da grana pública são muito fechados e mancomunados com os poderes e poderosos. Ainda não temos uma filmografia anarquista constituída no Brasil, que me venha à cabeça temos os já clássicos: Os Libertários do Eduardo Escorel, O Pão Negro e Os episódios da Colônia Cecília, além de documentários sociais recentes, diferentemente do cinema mundial como já foi sistematizado no excepcional livro ainda inédito em português: Cine e Anarquismo – La utopia anarquista en imágenes, de Richard Porton.

ANA: Quanto tempo levou para produzir o vídeo? É um vídeo no estilo "faça você mesmo"?
Juliano: Pra fazer o filme foi jogo rápido, creio que um mês, sob a pressão da campanha que tocávamos paralelamente com diversos compas. Sim, façamos nós mesmos coletivamente, queríamos desconstruir a idéia autoral tradicional e a ilusão da montagem, diminuindo a quase zero efeitos e trucagens, por isso só usamos cortes secos. O exemplo da produção coletiva dos filiados ao Sindicato de Cinema ligado a CNT da Espanha, que recentemente circulou o Brasil (que, aliás, tá na mão pra disseminarmos), da Mostra de Cinema Anarquista produzido durante a Guerra Civil Espanhola nos guiou. E as brincadeiras que fizemos no filme como a dessincronização (a lá Tri-min-há) entre sons e imagens denunciam este engodo. Enfim, já basta de cortes molhados melodramáticos e do domínio da edição nos filmes, lembremos que existe cinema também além de Róliiude e nós fazemos o melhor cinema brasileiro do mundo.

ANA: Alguma curiosidade ou dificuldade enfrentada ao fazê-lo?
Juliano: A desconfiança de dar depoimentos discordantes que vão contra o consenso fabricado como diria Chomsky é hoje cada vez maior, a câmera intimida mais que aproxima, o medo reina na sociedade, mas em finais de 2006 a roubalheira e a indignação era tanta que conseguimos registrá-la no filme. Isso dificulta a integração antagonista, mas é um reflexo da apatia generalizada da sociedade. Há momentos do filme em que nos deparamos com a precariedade como no microfone que tem que ser operado pelo entrevistador, ao mesmo tempo, que faz as perguntas e tem que estar quase dentro do entrevistado em função da inexistência de boom direcional, o que nos obrigou a sermos criativos pra superar a nossa precariedade e tirar o melhor proveito dela. Mas esta é a nossa condição de latino-americano e da miséria das condições técnicas, tirar leite de pedras tem sido a nossa contribuição ao cinema mundial, vide a "estética da fome" e mais recentemente "a cosmética da miséria", assim as dificuldades desta ordem não são a exceção e sim a regra.

ANA: Como as pessoas podem conseguir uma cópia do DVD?
Juliano: Mandando uma mensagem pro agoraeluta@yahoo.com.br solicitando o filme (recebendo resposta com as instruções para pagamento) ou carta pra Caixa Postal 10062, Cep 88062-970, Yjureré Mirim/SC, com cinco reais camuflados (coloquem dentro de um papel carbono), que cubra os custos do DVD e do envio postal. Foda-se a propriedade intelectual, é mais um roubo como diria Proudhon, talvez tenhamos problemas com a Ancine e a Programadora Brasil. (risos) Mas acreditamos que os filmes existem para serem vistos. Creio que o Existe... é um bom ponto de partida pra reunir os amigo/as, vizinho/as e conhecido/as da comunidade e discutir o que fazer frente a mais este circo eleitoral que se aproxima. Assim podemos coletivamente desmascarar esta farsa que ganham os de sempre a partir da fala do próprio Ceará no vídeo: "pra se vencer uma eleição só é preciso duas coisas, muito dinheiro e muita mentira". E finalmente tomar-nos nosso destinos em nossas mãos, como mostram outros exemplos pelo mundo. Mais recentes como a Outra Campanha e a Comuna de Oaxaca no México, o movimento popular argentino "Fora todos que não reste nem um só", a mobilização Boliviana pela água-gás ou menos recentes como as coletivizações na Espanha, os marinheiros em Kronstant , Makno e a Golai Polei, as Comunas de Paris e as barricadas do desejo do 68, e tantas outras experiências de autogestão social com democracia direta. Que evidenciam a ineficácia, ineficiência e incompletude dessa dita democracia que estamos vivendo.

ANA: Quer acrescentar mais alguma coisa?
Juliano: Gostaria de me solidarizar publicamente com você Moésio que tem sido ameaçado pelo essencial trabalho com o coletivo da ANA, por esta corja de ditas autoridades institucionais e seus asseclas na Prefeitura de Cubatão, representando um dos braços do Estado dito de "direito", que não se lembra do direito essencial de liberdade de expressão que o sustenta. Apoio Mútuo e Solidariedade Ativa serão sempre marcas libertárias, garantiram e garantem a nossa existência social por isso: Paz entre nós e guerra aos Senhores! E o melhor protesto que podemos dar a esse Estado é a nossa resposta nas urnas. Felizmente estamos voltando a um tempo em que as idéias tornam-se perigosas. Cabe ressaltar que ultimamente muitas outras esferas dos aparelhos do Estado tem se dedicado a perseguir as idéias libertárias e seus difusores. E se está incomodando é por que tem sido eficiente, conjuntamente aos esforços de outros grupos e individualidades libertárias, autônomos e de contra-informação antagonistas com seus trabalhos em diferentes campos nos têm permitido ver além... do que o capital nos quer obrigar a ver. E lembrando Jean-Luc Godard, para mim um grande anarquista da linguagem cinematográfica, no seu Histórias do Cinema, diz que a natureza é superior a arte, que o lugar de toda criação é o homem (não nenhum partido ou classe social) e que o homem (um criador criado) tem em seu próprio coração lugares que não existem... Juntando a Durruti que diz que nós, anarquistas, trazemos um mundo novo em nossos corações e ele vem crescendo... Só posso desejar à todo/as: Luz, Câmera... Anarquia! Avante o/as que lutam! E um grande AXÉ!


agência de notícias anarquistas-ana

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