17 junho, 2007

À maravilhosa vaidade feminina!

Recebi uma intimação de Cumpadi Guilherme, um manezim que consegue rir enquanto bebe seis sucos de laranjas e duas garrafas de água, pra acompanhar legítimos acepipes mineiros (não sabem o que é acepipe?! plagiando o Prates: vão procurar o dicionário!), referente à minha ausência bloggística. Até pensei, por causa da saída gargalhante que oferecemos ao Cacá, pra quem o bicho só se tiver uma carrada de pernas e antenas, em postar alguma brincadeira alegre. A postagem também seria uma espécie de homenagem a Dercy. Fica pra depois.
Não deu!
Acabo de receber via TV, este trem que os intelectuais e os desavisados adoram chamar de alienante (neste exato momento, Mestre Pinsky mais dois estão discutindo éticas e otras cositas más no programa do impoluto William Waack, com base no escândalo Calheiros), uma overdose de crueldade: uma entrevista com a Rosie Marie Muraro (fantástica!) e um documentário sobre visitas familiares e/ou íntimas (intímas?!) a seus maridos, namorados e filhos. Incomodei-me e mudei de idéia e aí vai um poema que escrevi quando morava no Cassino. Havia assistido um Globo Repórter sobre prisioneiras do Talavera Bruce, presídio feminino carioca. Quando acabou o programa meu cérebro de castanha ficou a matutar: “como estas gurias mantêm a vida, mesmo com a sociedade desejando ardentemente a sua morte!”
A foto, "emprestei" de autoria de Genna Naccache.
Aí vai o fruto. Bom divertimento.


TAL É VERO?

1. A SOLIDÃO É A MASMORRA

ao seu modo
conseguiu alforria
mas o pesado portão ainda lá estava
a obstruir o curso da vida

à espreita
um cupido anarquista

não resistiu

em prantos
bêbada e feliz
entregou-se
abraços beijos
o coração a conduzir o corpo
eterno escravo da paixão

ninguém entendeu:
“- por uma mulher?!”

para boa amante
meio olhar basta

2. “JÚLIA ROBERTS”

decididamente
a vida não é “O FILME”
woo não há
bruce não invadirá talavera
tronitruante
grades flutuando em câmera lenta

na tela
o sorriso largo
insiste
em manter o corpo
no balão de esperança

na película
o orgulho da pátria madastra
a cor vendida em verso & prosa
correndo o mundo
em catálogos de agências de viagens

sangram 24 quadros por segundo

3. KABUKI

toda manhã

pacientemente
o senhor de tudo e todos
tece fio por fio
em prata:
alguma ruga nova insinua-se

toda manhã é a mesma

sobre o caixote de maçã
espelho
pincéis tintas
potes bastões tesouras pinças:
a arte e o ofício
de estancar o tempo

por fim
o lápis
traça o contorno dos lábios
aprisionando o batom
resguardando a sede

sob a pintura
a vida retesada

lá fora
a vida continua?


(às borboletas
que do Talavera Bruce
já não podem)

Cassino, 95

2 comentários:

taquepariu disse...

Grande Zira! Gostei dos últimos posts, o que não quer dizer que eu necessariamente concorde com a notícia da Época. Acho que devemos noticiar o que há de bom, mas que isso não se transforme em uma maneira de esconder o aterro sanitário que é o planalto central. Muito bom o poema!
Abraço!
Guilherme

Anônimo disse...

Caraca, cumpadi!!!
De Shasça pra Ziraldo, de Ziraldo pra Zira... daqui a pouco vai me batizar de ZZZZZZZZZZZ... E eu nem gosto de dormir.
Tentando teclar sério, o comentário é muito benvindo. Aliás, tua cobrança até causou esta overdose de posts no blog. A respeito dele e das nossas discordâncias, duas coisas:
1 - O melhor da vida é tudo ser diferente de tudo ou, como diz o Tim Maia: "uma coisa é uma coisa; outra coisa, não sei...". A concordância, se existisse alguma, travaria a vida. O que movimenta a vida é o conflito. Concordância, só se vc concordar que cachaça também é suco, embora não ocupe a seção de sucos nobres da tabela periódica. Hein?!
2 - Não tenho, nem nunca tive, o propósito de esconder coisa alguma, de quem quer que seja. Apenas quero afirmar que coisas boas estão acontecendo, apesar )como sempre) das coisas ruins. Como não sou romântico, não posso ser otimista. Pelo mesmo motivo, não sou pessimista. Vejo a vida como um banquete e só me interessa o que tem nas tigelas, nos pratos, nos copos... Senfim* , o que tem sobre a mesa e sobre as cadeiras. O quê falta, não ajuda.
Entre outras coisas (haja coisas), é nói na fita, os bói no DVD e as patricinha no MÊPÊ-3
[ ]'s
Shasça

* Pra não usar "enfim".