15 julho, 2011

EDUCAÇÃO É PRIORIDADE?



Todos os brasileiros - ou quase todos – acreditam que Educação, assim como Saúde e Segurança, é importante. Por isso mesmo, quando das campanhas, eleitores e candidatos (independentemente de opção partidária) e também aqueles que defendem que o Mundo seria mais feliz sem a Política, requerem e/ou prometem melhorias nesses três itens básicos na cesta vital de qualquer ser humano. Entretanto, pouquíssimos são aqueles que se atêm a alguns, porém fundamentais, detalhes: que melhorias são essas tão propaladas durante as eleições? o quê vai melhorar? como e para quem vai melhorar?

Curiosamente, esses mesmos “todos os brasileiros” não acreditam que alguma coisa vá realmente melhorar e vêem as promessas como pura isca de boca-de-urna. Lamentavelmente, via de regra, Educação não passa de um tema que ocupa cabeças e conversas durante certo período e sai de cena logo que o voto é depositado na tecla.

Apuradas as urnas, o eleito descobre que os recursos são parcos e as dificuldades são muitas, que precisa de mais prazo e fecha-se no clássico e conhecido “agora não vai dar; vamos por ordem na casa, primeiro”. Como, normalmente, não é cobrado pelos eleitores, dorme a paz dos justos.

O eleitor, por sua vez, volta-se para seu viver comezinho enquanto torce para ser aquinhoado com alguma sinecura, por mais passageira que seja. Então, não conseguindo uma boquinha sequer (tetas e bocas sempre são poucas), volta-se para o muro das lamúrias ao qual já está acostumado e sem o qual seu viver parece perder a graça. Lamuriar é a principal característica da Cultura Judaico-Cristã (antes que saquem as armas, falo de Cultura e não de Religião): aquela velha crença que os humildes serão exaltados... que é mais fácil um camelo passar...

Escrevo num momento em que ocorre uma greve histórica e crucial dos professores da rede catarinense. Histórica porque o principal motivo é a recusa do Governo Estadual em cumprir a lei que cria o FUNDEB, aprovada em 22/05/2007 pelo Congresso Nacional, merecendo o SIM do então SENADOR RAIMUNDO COLOMBO, como pode ser conferido à página 4 de 23 das VOTAÇÕES NOMINAIS. Lei esta que teve sua constitucionalidade sacramentada pelo STF. Crucial porque dos seus resultados depende o presente de alunos, professores e pais, enfim, a Sociedade como um todo.

Deveria ser imprescindível que a Sociedade se envolvesse nesse processo, cobrasse e acompanhasse a execução de soluções que propiciassem avanços na qualidade do ensino público, porque paga por ele. Mesmo os pais que podem pagar – e também os que pagam sem poder – para que seus filhos estudem em escolas privadas (pagando duas vezes, portanto) precisam participar. Porém, o desejo geral é que o filho estude na rede privada de ensino, podendo pagar ou não. Esse fenômeno social responde a pergunta do título: Educação Pública não é prioridade; não, além dos discursos. Da mesma forma que Saúde e Segurança, Educação Pública não é prioridade para o eleitorado composto, em sua maior parte, justamente por alunos, professores e pais. Caso fosse, governantes e legisladores, ao contrário do que acontece, dar-lhe-iam prioridade real, posto que não existe candidato suicida. A Educação também não é prioridade para sindicatos de empregados (que precisam se preparar para o trabalho) nem para associações de empregadores (que precisam de empregados preparados).

A meu juízo, o professor é o profissional que tem mais de interferir na atual situação: ele é o único empregado que cria seu patrão quase que desde o berço, hoje em dia. Quando seu aluno crescer comporá tanto o eleitorado quanto os poderes executivo, legislativo e judiciário. O professor é o principal colaborador na formação da visão de mundo e do conjunto de valores do seu patrão. Tem a faca e o queijo; só precisa tomar cuidado para não cortar o dedo.

Quanto à presente greve, o vulgo costuma dizer que “mais vale um mau acordo que uma boa demanda”. Porém, como não sou professor, só posso conjeturar a respeito do movimento. Imagino o professorado voltando às aulas para que os alunos não tenham seu período escolar prejudicado ainda mais. Enquanto isto, sua entidade de classe aciona a instância juridicamente competente, pleiteando o recebimento de cada real que tenha faltado no seu salário desde a aprovação do PISO SALARIAL. E tem esse direito porque é desta maneira que o Estado age quando, por algum motivo, o cidadão fica em débito com seus impostos: toma-lhe, judicialmente, até a casa de morar. A decisão do STF é a garantia jurídica que pode embasar este processo.

Que te parece?


Ps.: nos HYPERLINKS (palavras realçadas) tem o voto de Colombo a favor do FUNDEB.

5 comentários:

Gilberto disse...

Meu caro, como falei lá no twitter a conclusão do teu texto é bastante sensata. Além disso, tem algo que me questiono em relação ao movimento de greve: por que razão tal greve não ocorreu no governo anterior. Afinal, a situação já estava posta! E ainda por cima ex-governador e ex-secretário de educação foram eleitos senadores. Ano passado não haviam problemas?

bete disse...

Então né Gilberto...?

Anônimo disse...

Primeiro belissimo texto, adorei inclusive o desfecho, mas gostaria de me colocar frontalmente contra qualquer tipo de manifestação grevista ou "reclamista" dos professores. O que temos assistido na educação publica é um monte de pseudos professores que ganham muito bem quando comparadas a outras profissões reclamando de salarios e ensinando muito pouco, melhorem a qualidade do ensino, cada um dentro de sua sala e depois vamos discutir salarios, os professores hoje são a categoria profissional onde as anomalias pensantes são as mais profundas, sinto muito pena de crianças que estudam em escolas publicas pelo descomprometimento dos professores enquanto houver corporativismo e não pudermos mandar embora maus professores sou contra todos pois meu desejo é ficar a favor dos bons professores... e você é a favor da manutenção desta situação?

Luiz Martins disse...

A educação voltará à pauta nas próximas eleições, uma vez mais para compor promessas vazias e compromissos nunca cumpridos. Aqui na UFABC, há uma pressa repentina para a inauguração do campus de S.Bernardo do Campo... dá pra imaginar qual seria a motivação dessa pressa, o prefeito e ex-ministro Luiz Marinho, amigão do "homi", é o maior interessado... Enfim, cabe principalmente aos educadores o papel de manter a pressão e a liderança da eterna luta pela Educação (isso sem excluir, é claro!, os demais movimentos populares).

Fabrício Biff disse...

Mesmo Colombo que votou a favor da Lei do Fundeb era senador de oposição e assim sendo jogava para torcida pensando no futuro político sem se importar com o fato em si. O que governa agora já chegou aonde queria e faz pouco do seu voto de outrora, pois poucas pessoas como você fazem lembrar o acontecido.

Bom lembrar que Colombo foi eleito em primeiro turno e não é possível que sendo eleito junto com ele o ex-governador LHS e o secretario de educação agora senador Paulo Bauer professores em sua maioria também não tenham votado nele. O povo catarinense é avalista mesmo que de forma indireta do atual governo. O elegeu dando continuidade a dois governos que o antecederam.

Sem duvida alguma professor inicio de tudo. Professor de mal com a vida aluno na maioria das vezes mal ensinado e muito mais mal educado. Mas como a coisa anda mesmo que criem bons indivíduos os mesmos poderão se perder pelo caminho se os valores hoje apresentados pela sociedade não mudarem. Ficou difícil ser honesto.

Quanto a sindicatos e seus integrantes tenho minhas dúvidas. Existe gente boa, mas também existe muita gente negociando por trás dos panos e lucrando com isso. Sem contar os palanques políticos montados a cada greve. Piso já diz tudo, é o mínimo. Agora cabe aos “educados” da justiça darem direção a situação. Em tempo, o brasileiro quase que num todo é muito mal pago e todas as profissões tem seu valor. No mais nada mais me espanta.