10 março, 2012

LIXO: DE QUEM É, MESMO ?

Na primeira metade dos anos 90, quando trabalhava no Setor de Meio Ambiente da Prefeitura de COSMÓPOLIS, visitei o ATERRO MANTOVANI, um lixão industrial clandestino (como todos os lixões, industriais ou não, inclusive este aí que você permite na sua cidade) localizado em SANTO ANTÔNIO DE POSSE. Visitei o lixão juntamente com os prefeitos das duas cidades. Circulamos pela área ao lado do proprietário do lixão que, enquanto caminhávamos, nos contava sobre os resíduos que recebera durante mais ou menos 12 anos (até ser embargado pela CETESB).
Chegando próximo de uma mancha de piche que parecia ter acabado de jorrar através da terra vermelha, o proprietário estacou e disse ao prefeito possense:
“- Aqui, tem muito dinheiro. Recebíamos 30 toneladas, todos os dias! Já pensou o quanto isto significa termos de imposto para S. A. de Posse?”
Fiz uma conta rápida para entender este tal “significado”: 30 x 30 x 12 x 12 = 129.600 toneladas! E isto não é tudo: ele recebeu resíduos industriais de várias cidades e, muito provavelmente, do exterior, via PORTO DE SANTOS. Torci para ele estar exagerando. Então, olhei novamente para aqueles farrapos de sacos plásticos brotando do chão e dos barrancos, olhei bem para a imensa poça de óleo onde flutuavam bombonas azuis. Acreditei no que ele disse.
Detalhe: este lixão, que ainda está sendo
RECUPERADO, situa-se próximo à nascente do curso d’água que abastece Cosmópolis. O comopolense, como acontece com a maior parte da população de quase toda cidade brasileira, dormia tranquilo àquela época. Ainda dorme.
Aparentemente, daquela visita para cá o tempo passou. Aparentemente, porque, mais uma vez – e tenho certeza que não será a última, relatam os jornais que um desses países classificados como modernoso first world despachou uma carga de
LIXO PARA O BRASIL, camuflado como matéria prima.
Semana passada, o posto da Receita Federal situado no
PORTO DE ITAJAÍ apreendeu dois containers com sacolas e sacos plásticos contaminados como se fosse carga de polietileno. Segundo o DIÁRIO CATARINENSE, a origem deste mais recente presente de grego é o Canadá. Este mesmo Canadá que posa, e ingênuos acreditam, como país altamente cioso de suas obrigações com o Meio Ambiente.
Não é bem assim o que acontece, por exemplo, na extração de petróleo de suas
AREIAS BETUMINOSAS. Não sabia? Pois é, o primeiro mundo também faz sujeira. O diferencial é que fazem os países de segundo, terceiro, quarto etc. mundo de tapete, para baixo do qual empurram seus frutos indesejados. Como incentivo à leitura do artigo de Emmanuel Raoul veiculado pelo LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL, a respeito dos problemas causados pela extração de petróleo destas areias, experimente este trecho:
“Há aproximadamente dez anos, os habitantes de Fort Chipewyan começaram a pescar peixes disformes e com gosto de petróleo. Em seguida, o médico local deparou com vários casos de um câncer raro da vesícula biliar cuja incidência é, normalmente, de um para cada 100 mil habitantes. Ora, aqui vivem cerca de mil pessoas! Na primavera de 2006, o doutor John O’Connor responsabilizou a indústria petrolífera, publicamente, pela situação. As consequências foram terríveis para ele. A administração federal da saúde o processou por “atitude não profissional”. Mortificado por tais ataques, ele deixou a região em 2007.”
A pergunta que têm calado é: por que o lixo não é de responsabilidade de quem o produz?
Outras perguntas: que você tem a ver com isto?
Com a palavra, aqueles raros que refletem sobre o assunto.
{8¬?
Ps.: como sempre, muito mais informações nos HYPERLINKS (palavras realçadas). Basta clicar neles e outras portas se abrirão.

5 comentários:

Ana Pokora disse...

Bom Dia. Brilhante sua abordagem, humildemente me trevo a responder, é meu é teu, é vosso....Moro em condomínio de 40 aps, é impressionante o que aqui (nesta mínima parcela) se faz, as pessoas não conseguem se concientizar, ou não o querem e, mais uma vez, empurram para o poder público...ele que resolva. É de chorara em alemão....

Fabio Mosk disse...

Eu concordo plenamente porém o problema é muito mais fundo eu até hoje não conheci uma única empresa que realmente fizesse a coleta seletiva, pois elas separam e na hora de jogar o lixo para fora vai toda no mesmo saco. isso claro não estou dizendo dai de SC onde os alunos possuem meio ambiente e sua grade curricular mas sim de são Paulo o estado mais populoso do país

Mirna Tonus disse...

Infelizmente, são poucas as empresas que dão a seu lixo um destino menos agressivo ao meio ambiente, sendo que algumas pagam para recicladores recolherem ou receberem os resíduos.
Quanto ao lixo doméstico, infelizmente, também há sérios problemas. Muito importante esse assunto.
Abs.

Anônimo disse...

O lixo deve ser de responsabilidade de quem o produz. Essa responsabilidade deveria contribuir para que as comunidades atuem mais fortemente na coleta seletiva e recuperação do lixo. Hoje, por exemplo a industria do agrotóxico recolhe suas embalagens usadas e contaminadas pelos venenos que usamos nas lavouras e encaminham para o reprocessamento. Para isso, essas industrias criaram um Instituto chamado Inpev e realmente funciona. Isso deveria acontecer em outros setores que descartam muito lixo, principalemnte plásticos, metais e vidros.Mas só será possível quando as cidades criarem seus proghramas sérios de coleta e reciclagem e o governo federal deixar de cobrar impostos para quem recicla industrialmente pois essas pequenas empresas são penalizadas com impostos mesmo atuando ecologicamente.

Anônimo disse...

Interessante e importante abordagem. Estarei colocando um link do post lá no Alameda1976.
Abraços!