16 janeiro, 2016

MUITO ALÉM DOS CENTAVOS


De início, quero deixar claro que nada tenho contra alguém, em grupo ou sozinho, manifestar sua insatisfação seja lá com o que for e exigir o que julga ter direito. Às vezes, mas só às vezes, parece-me que falta dentre as faixas e cartazes reivindicatórios uma plaquinha com os dizeres “Queremos nossos deveres”. Porém, isto já é outro papo. Pra outro momento.
Há uma incoerência, por pequena que seja, no fato de uma entidade chamado Movimento Passe Livre pleitear redução de tarifa. Oras, é como alguém que se diz socialista, ou comunista, exigir aumento de salário, sendo que salário é um dos frutos da relação Capital x Trabalho. Entendo, e posso estar equivocado, que o MPL deveria centrar energia na extinção do pagamento individual dos custos do Sistema de Transporte Coletivo. As empresas prestadoras deste serviço público deveriam ser contratadas pela prefeitura, que as pagaria com os impostos e tributos que arrecada.
Em alguns dos debates sobre Transporte Coletivo que participei, fazia-se a comparação com a coleta de lixo urbano: o caminhão coletor não cobra diretamente do morador no momento de recolher seus lindos e bem organizados sacos de lixo. Tanto faz se ele dispõe dois sacos de lixo por dia ou uma sacolinha a cada dois dias, o caminhão leva tudo e os custos são pagos pela prefeitura. Ou não é assim?
Outro detalhe que me chama à atenção é que, salvo raras exceções, fala-se apenas nos centavos acrescidos ou na percentagem de reajuste. Entretanto, quem circula de ônibus sabe que os buracos são muito além do bolso:
- o desconforto nos ônibus e metrôs quando lotados;
- os imensos intervalos entre um horário e outro;
- as instalações físicas dos pontos de embarque/desembarque que, quando existem, são eficientes apenas ao meio-dia, caso não esteja chovendo nem ventando; e, para não alongar muito a lista,
- a falta de segurança dos passageiros.
Em relação a este quesito, uma pergunta que muitas vezes fiz, e ainda faço, a fiscais e agentes de trânsito que, por ventura, encontro quando viajo de busão é:
- Por que num automóvel que disponha de airbag, cinto de segurança etc., criança deve viajar instalada em cadeirinha certificada pelo INMETRO, sob pena de multa, ao passo que nos ônibus urbanos, ela pode ficar nos braços dos pais, sentada sozinha ou em pé no corredor?
Respondem-me, quando respondem, que a lei não exige cinto de segurança ou cadeirinha em ônibus urbanos.
Fico a pensar que os responsáveis pelas leis que regem o trânsito acreditam que passageiro de coletivos tem o corpo fechado. Também pode ser que percebam sua existência apenas como pagador de passagem. Aliás, parece-me que boa parte dos usuários concorda com isto.
Olhando bem para esta foto em que carrego Maria Cândida enquanto o ônibus trafega pela seguríssima rodovia SC-401 rumo ao centro de Florianópolis, até que estamos bem confortáveis, né? Realmente, devo ser mesmo um implicante.

09 janeiro, 2016

QUANTOS DE NÓS MATARAM O INDIOZINHO?



Nalgumas calçadas do centro de Florianópolis, que é por onde tenho mais circulado nestes recentes 15 anos, índios têm sido abandonados em paz. Abandonados porque deixados em paz nunca ocorreu desde que Cabral, por necessidades de um povo d’além mar que nem imaginava que já havia um povo d’aquém mar, ESTUPROU AS ÍNDIAS da tal Terra Brasilis. Obviamente, tal fato não é privilégio de Florianópolis. Cito a cidade para dar um pouco de concretude à cena. Creio que o mesmo se dá em outras cidades e vilas brasileiras, nas quais a sociedade local suporta-os sentados nas calçadas, juntamente com suas crianças, oferecendo seu artesanato aos passantes que quase não os notam.
Assim como acontece nessas calçadas, Sônia amamentava Vítor – além de existir, índios também têm nomes – na rodoviária de Imbituba - SC, quando um rapaz aproximou-se e fez uma carícia no rosto da criança. Embora seja raríssimo um branco tratar bem os índios, Sônia acreditou que iriam ganhar algum presente. De repente, Matheus, o rapaz, sacou um estilete e cortou a garganta de Vítor.
Posto que a Vida é processo e não sequencia de efemérides, como soe acreditar os fãs de almanaques tipo fontoura, o assassinato da criança kaingang,  não começou nem foi concluído no instante em que alguém cortou-lhe a garganta. Quem já leu algum dos textos de FREI BARTOLOMÉ DE LAS CASAS sabe que este tipo de encontro entre branco e índios tem acontecido desde que Colombo invadiu o continente que passou a se chamar América.
Sintomático também é este trecho do DISCURSO do deputado Fernando Furtado (PCdoB-MA):

"Lá em Brasília o Arnaldo viu, os índios tudo de camisetinha, tudo arrumadinho, com flechinha, tudo um bando de viadinho. Tinha uns três que eram viado, que eu tenho certeza, viado. Eu não sabia que tinha índio viado, fui saber naquele dia em Brasília. Então é desse jeito que tá. Como é que índio consegue ser viado, ser baitola e não consegue produzir? Negativo..."

Entretanto, há um detalhe a ser considerado neste acontecimento em Imbituba: segundo o delegado que investiga o caso não há indícios de motivação étnica. Longe de mim defender quem quer que seja, até porque temos uma pessoa que morreu e outra que matou. Porém, a postagem de Renan Antunes de Oliveira no DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO deixou-me com a impressão de que Matheus foi conduzido pela própria família, que foi conduzida pela Sociedade à qual pertence, a um beco sem saída. Talvez o tenha incomodado ver uma criança recebendo algo que não lhe foi oferecido.
Refletindo sobre a maneira como a Sociedade procura tanger seus membros cheguei ao LINCHAMENTO daquela dona de casa. Linchamento este construído e incentivado pelas tais redes sociais. Mesmas redes sociais nas quais é rotineiro ler postagens que revelam desejos de que fulan(a)o ou sicrano(a) morram da pior forma possível. Redes que, às vezes, mais se assemelham às fogueiras e forcas que ornavam cidades e vilas ao tempo da Inquisição.
Como sugestão de trilha sonora pós-leitura, sugiro esta atualíssima canção de VINNIE JAMES. Principalmente, pelo refrão.




Ps. 1 – recomendo, a quem quiser refletir um pouco mais sobre como temos tratado os índios, a leitura do artigo 1500, O ANO QUE NÃO TERMINOU, de Eliane Brum.
Ps. 2 – a FOTO é de Gabriel Felipe.


Ps. 3 – saiba mais sobre o assunto clicando nos HYPERLINKS (palavras realçadas).

02 janeiro, 2016

E OS CATASTROFISTAS SE CATASTROFARAM...

  
...como sempre.
2015 foi mais um ano classificado pela Gramde Inpremça como apocalíptico. Que nem que aquele papo de 2014 batizado de NÃO VAI TER COPA. Como se viu, a Copa de 2014 teve quase tudo: aeroportos, hotéis, estradas, público, estádios, jogos espetaculares... Quase foi nota 10. Faltou o que o pessoal que cochila na estufa acreditava que tinha: aquilo que os inglês chamam team.
Aprendi com Tião, garçon e cozinheiro dos bons, que comércio é como arapuca: precisa estar armada. Se estiver armada, pode ser que caia algum passarinho; se não estiver, passarinho não cai mesmo. Observando o noticiário a respeito do movimento turístico pelo País, fico a pensar como está o humor dos empresários que acreditaram na assoladora crise que sumiu com o dinheiro do povo e não se prepararam para atender a demanda por milhões de pães-com-mortadela & tubaínas. Especialmente, se for um empresário que já tenha “comido bronha” na Copa que não haveria.
Então, meu povo, 2016 já deu a largada. Sigamos aquele verso do BELCHIOR: “o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente”. Porque cobra que não se vira não engole sapo. E sapo que não dá seus pulos...
Pra cima com a viga!




Ps. 1 - foto de Copacabana emprestada da Folha de São Paulo
Ps. 2 - saiba mais clicando nos HYPERLINKS (palavras realçadas).