26 fevereiro, 2007

SÁBADO


Margem direita da represa do Pirapitingüi, sol a pino.
Três prostitutas pescavam:
caladas,
os olhos nas crias,
desbocadas e barulhentas,
a brincar na água
turva como a paternidade.
Vez em quando:
-”Porra,
que merda:
outro lambari!”

Sonhavam curimbatás... pintados... dourado, quiçá.

Uma, porém, mirava a água,
absorta,
náufraga em seu sonho.
Queria mesmo
era fisgar um tritão,
Um qualquer,
que lhe pousasse aquele olhar de peixe morto...
Qualquer um,
que tivesse peito pra dizer o “sim”.



Ps.: Este poema é baseado numa cena real sucedida lá numa das margens da represa de Cosmó, adonde se me criei Shasça.
Aqui, entra como uma forma de convidar as pessoas que estão preocupadas com a tal “onda de violência cometida por menores” – e as pessoas que não estão, a assistir um maravilhoso filme brasileiro que joga luz sobre um tipo de amenidade que adultos bacanas (distintos ou não) têm cometido há muito tempo neste nosso brasirsão. Trata-se do filme ANJOS DO SOL, de Rudi Lagemann. Informações no site oficial:
www.anjosdosol.com.br
Um aviso aos incautos: melhor por azeite na pipoca, pois a boca pode ficar seca em alguns momentos.
Pois é... Também eu sou do time nacional: passadas as folias momescas, o tiroteio recomeça.
Se é que em algum momento cessa.

7 comentários:

Anônimo disse...

Shaça, você é um poeta... de fato!

Só não consigo ler nada em vermelho, nem de óculos""

Ana Maria (porque Ana... tem muitas.)

Anônimo disse...

Shaça, meu amigo


Caminha pela vida sem receio
Pensa que nada lhe alcança
Até que uma saia o laça

Faz chacota das mazelas da carne
Plagiando um semideus imune
E eis que um chorrio se lhe acomete

Andarilha por roças e pagos
Toma-se por alma cigana
Mas um passarinho num alpendre lhe cria um lar

Mistura-se com todas as raças
Bebe com todas as classes
Delicia-se com a vida borbulhante
E solta as amarras ao vento

Mas tem medo de polícia
É meio preto
Paradoxo da liberdade.

Shasça disse...

Cara Ana, Este medo eu tive, fruto de algumas experiências com o imaginário popular que reina acima do Paraná. Só retorna, quando ultrapasso as fronteiras de SC.
Brigadim por mais esta.

Anônimo disse...

Deste aqui eu gostei e olha que não gosto de qualquer coisa! Eu acho que você tinha de escrever prosa. Eu sei que é outra configuração, há outras molduras envolvidas. Mas ainda acho, meu amigo, que a prosa lhe serve e deve ficar linda vestida com essa sua delicadeza em vestir a sintaxe com ferrugem e pó que a gente carrega da vida.

Unknown disse...

Olha aí a Ana dizendo... gostei de ver. Gosto de ver teus "dizeres" também, meu querido. Sinto minha mente longe. Tenho que colocar os "pés no chão", caro amigo?

Shasça disse...

Sem esta de conselhos porque, além de não ter estofo pra tanto, não acredito em convencimento.
Eu, cá, procuro usar o quê eu tenho. O quê não tenho, não me serve pra coisa alguma. Se a mente voa é porque não tem amarras. Por que investir o viver em inexistentes amarras ao invés de no vôo da mente?
E, que eu saiba, pé no chão que resolve é pé de planta. Excetuando-se a capoeira, onde a planta do pé resolve um bocado.
Ícaro manda bejotas

Shasça disse...

Susanna, a prosa tá na agulha, semi-pronta. Falta solidificar em letras.
Gosto também da prosa. A questão é a diferença: prosa requer mira e pro poema basta o gatilho. Assim, enquanto uma não vem, vai o outro.