22 julho, 2007

A ESPERANÇA, DE MALRAUX

Mais uma vez, minha Bonita alimenta minh’alma ao me apresentar este cabôco cidadão do mundo, destrinchado por ela em sua tese. E continuo a acreditar que a vida nunca sacaneia quem dela gosta, pois sempre me abrem alguma janela.
Experimentem este trecho de A ESPERANÇA, obra de André Malraux, na qual ele escreve sobre os sentimentos dos envolvidos na Guerra Civil Espanhola.
“Shade parou na primeira casa destruída. A chuva tinha cessado, mas dava para senti-la ainda próxima. Mulheres com xales negros faziam fila atrás dos milicianos do serviço de socorro que retiravam dos escombros uma corneta de gramofone, um embrulho, um pequeno cofre...
No terceiro andar da casa, na perpendicular como uma decoração, um leito pendia, suspenso por um dos pés a um teto partido: aquela sala tinha esvaziado na sarjeta, quase aos pés de Shade, seus retratos, seus brinquedos, suas caçarolas. O térreo, apesar de arrombado, estava intacto, tranqüilo como a vida, seus moradores agonizantes levados pela ambulância. No primeiro andar, em cima de um leito coberto de sangue, um despertador tocou, a campainha perdida na desolação da manhã cinzenta.”
Puro cinema!
Assim como em outra maravilha da escrita, A CONDIÇÃO HUMANA, Malraux explode suas fotossílabas, fotofrases, fotofrutos de sua presença na vida.
Arrisquem-se!

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