20 novembro, 2009

PARADO É SUSPEITO

Com não é um dia de mandar flores e, sim, chumbo, solto os cachorros. A festinha pro pessoal do camarotes, outros que a façam.
Aí vai mais um poemeta que tem algo a ver com a data.
Desejo que sinta.
{8¬V

PARADO É SUSPEITO, CORRENDO É LADRÃO

ainda há pouco te observava mudar de
cor ao me ver chegando
teu coração batendo à boca
os olhos arregalados
o outro trancado

ledo engano heim madame?
pena que o negão não tava chegando
tava só passando
o que prá madame já é demais
coitadinha
toca a engolir o coração de volta

pois é
nessas horas
a madame se esquece
das porradas que leva do galego seu
marido
daquele vizinho de condomínio que
estuprou a empregadinha
do outro
que a madame deconfia
que transa com a própria filha
se esquece até daquele pesadelo
que pertuba suas noites de jejum
a madame tá caminhando no guarujá
de repente
salta em cima da madame
aquele puta negão pelado
aquela coisa preta
aí a madame quer correr
as pernas amolecem
cai
sente aquelas mãos ásperas
aquela boca chegando... chegando...
e aí...

a madame acorda toda molhadinha
todo o corpo ardendo
e não consegue mais dormir com o
ronco do galego

tudo isso me dá um dó
porque eu vejo o mesmo nos olhos da sua
filhinha tão fresquinha
e daquele seu filhinho de fala mole
imagino
que os seus antigos também eram assim

mas olha
liga não
vida de nego é difícil
(já dizia a canção)
mas a de branco também não é fácil
é cada susto
e aí eu levo uma vantagem
não tenho a grana mas sou negro
só me assusto quando pintam os...
(a madame sabe de quem tou falando)
pois nunca se sabe
se eles tão do lado da gente
ou da madame

mas sabe
no fundo
não vou perder meu tempo te odiando
te desejo fama e glória
ainda quero ver sua foto
nas paradas de sucesso do NP

e prá madame ver como são as coisas
no momento em que te falo
(sugestivo heim?)
tou tomando um vinho branco
com uma amiga que tem a pele como a tua
só que não é branca
é uma amiga

5 comentários:

Jorge Dersu disse...

100 comentários. A real é que a lida é brusca e pegada é forte por natureza. Feliz do nosso encontro e tecladas. Parabéns pelo trabalho com as letras.
Ashé

Shasça disse...

Cumpadi Jorge,
Este poema foi compsto logo pós ter "assustado" uma senhora que saia, com seu carro, da garagem de um prédio lá de Campinas.
Me lembro, às vezes, de uma música antiga tua que tinha uns versos assim:
"os gemidos coloridos que vinham dauele lugar
que por sinal
cheiravam mal"
Ainda a toca? Como é a letra toda?
[ ]'s
{8¬)

Deivid disse...

Grande amigo, Shasça! O racismo deve ser combatido com braços fortes, sempre. Seu poema não colabora com isso, você foi racista com a Madame Branca! Ou li outro poema?

Fernando pires disse...

Querido Shasça, eu também acho que voce não foi feliz, até porque Madame está em extinção,principalmente essa que ainda fica sonhando com negão pelado.Liga a telinha na novela das oito e verás com quem elas estão sonhando.
Abraços...Fernandim

Nelson da Cunha disse...

Shasça...Não importa a questão do contexto. O preconceito ainda grassa e quando denunciado tão ludicamente mostra a sua capacidade de exercitar a própria sensibilidade. Palavras bem juntadas para mostrar que a Arte também pode transformar, mesmo que as madames ou madamas estejam fora de moda.