QUEM ESPERA...
Chove. Ponto de ônibus. Poucos veículos passam, pois é sábado – pior só aos domingos.
Faz uma panorâmica do entorno: à esquerda, pessoas pintam o que veriam no canal onde escorre água morta; à frente, árvores e pássaros comemoram a chuva sem notar que também está frio; à direita, a placa confirma-lhe que se trata de uma parada de ônibus; às costas, a biblioteca desanimada como um bar na segunda-feira.
Confere o horário. Uma ave experimenta um vôo tranqüilo e, num rasante, cruza a rua vã. Lembra-se de catracas e filas.
Duas garotas travestidas de caipiras de festa esforçam-se em se mostrar alegres, uma à outra.
Olha para o início da rua: solta mais um muxoxo ao não ver o ônibus. Olha para o céu numa tentativa de súplica: aves soltas no espaço parecem não notar a pseudo-presença de ... que suspira:
- Na outra encarnação espero nascer estilingue...
Pano lento.
UFSC, 02/07/2011
11 comentários:
Belo miniconto, meu caro. Capta com maestria o clima de tédio e revolta em que se encontra o personagem. Parabéns.
Um abração
Geraldo Lima
gostei! :)
Feito o Pedro pedreiro esperando o trem que já vem, que já vem...
Olhando pelo lado de um boma baiano...tá bom; de um mineiro, tá melhor ainda; agora na visão do paulista....eita dia monótono.
Quem espera sempre alcança... O personagem representa todos nós, sempre a espera do amanhã - que não existe.
Abraços
@shasssa Já li e gostei...um 'poquium'...quando ia gostar mais, acabou...
@shasssa Já li e gostei...um "poquium"...quando ia gostar mais, acabou...
Na próximaNa próxima ,nem pássaro nem estilingue, nem a mão que empunha a arma ao alado...quero é ficar ali, parado, talvez apenas como um galho....
Aqui, na minha imaginação, isso aconteceu ali em frente biblioteca da ufsc, em frente ao CSE. Até enxerguei as moças indo em direção ao centro de convivência.
Gostei muito da descrição, principalmente deste trecho:
"a biblioteca desanimada como um bar na segunda-feira."
Tchau!
Tédio é o personagem principal, rs
Belo texto!
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