CRÔNICA DE UMA EPIDEMIA ANUNCIADA.
EXTERNA.
FIM DE TARDE. VILA DE PERIFERIA
Crianças
descalças jogam futebol na rua esburacada.
AGENTE
DE SAÚDE PÚBLICA caminha por entre as crianças. Olha para os lados em busca de
casebres suspeitos. Escolhe uma e caminha em sua direção. Para alcançar a porta,
pula o pequeno regato de esgoto que escorre pelo canto da rua. Bate na porta.
Surge
uma MULHER com uma criança de colo. A criança come um pedaço de pão. Agente
nota que as mãos e a boca da criança estão sujas de terra.
MULHER
- Oi. Você é do posto de saúde? Voltou a funcionar?
AGENTE
- Não sei. Eu trabalho no controle da dengue. Preciso
olhar se no teu quintal tem criadouros de mosquitos. Sua caixa d’água é bem tampada?
MULHER
- Cri-o-quê?! Aqui tem quintal não, moça. Também não tem
caixa. A gente busca água na bica lá embaixo.
AGENTE
procura onde anotar estas informações na prancheta, mas não há local específico
para este tipo de anotação.
MULHER
- Quando o posto de saúde volta a funcionar?
AGENTE
(ainda procurando onde anotar)
- Hein?!
AGENTE
(ainda procurando onde anotar)
- Hein?!
FADE
OUT
*****
Este
roteiro bem poderia ter sido escrito lá no início dos anos noventa, quando eu
trabalhava na área ambiental da Prefeitura de COSMÓPOLIS e participava do
Conselho Municipal de Saúde. À época, estávamos numa situação semelhante à que
Santa Catarina se encontra neste exato momento, pois a DENGUE, batia às nossas portas.
Ao
começarem a citar as medidas a serem tomadas (busca por xaxins, vasos em
cemitérios, pneus velhos, tampinhas de garrafa etc. e o indefectível fumacê)
argumentei que a cidade não dispunha de local adequado para descartar estes materiais
e se fossem jogados no lixão, aumentaria a população de moscas, que já era
preocupante. A médica sanitarista retrucou-me: “mosca não transmite dengue”.
Tive
a plena certeza de que não havia clima para propor a intensificação dos
trabalhos visando saneamento básico. Também tive certeza de que o aedes havia
encontrado um confortável lar.
Acreditava
– e ainda acredito – que fica difícil convencer alguém de que tampinhas de garrafa
podem ser perigosas à Saúde se o esgoto escorre a céu aberto, se o lixo não é
corretamente recolhido e descartado. Alguns dos demais conselheiros disseram-me
que isto iria demorar muito e a questão da dengue era urgente. Foi minha
derradeira participação naquele conselho.
Lá
se vão 20 anos e a região de Campinas – SP conseguiu ter seus “desejados” casos
de DENGUE HEMORRÁGICA o que, naquela ocasião, só acontecia na Baixada Fluminense.
Hoje,
vejo Santa Catarina caminhando para também ter sua própria EPIDEMIA
de dengue. Pois, como facilmente se pode constatar, a preocupação dos órgãos
estaduais com saneamento básico aproxima-se de zero. Porém, os caçadores dos xaxins perdidos já estão em campo.
Boa
sorte para nós todos!
Ps.:
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3 comentários:
pois é, politico gosta de fazer ponte, avenida, viaduto... saneamento basico nao "aparece".. isso tambem é consequencia das escolas publicas que parecem privadas..
Me lembro dessas suas previsões toda vez que o tema é Dengue. Mas olha...eu moro em um bairro com coleta de esgoto direitinho. Minha casa tb está cuidada permanentemente com minha atenção! Pois dia desses, fui checar que em um inofensivo enfeite de jardim(uma cara de anjo barroco feita em pedra sabão!!!) guardava água limpinha onde viviam lindas larvinhas da dengue...Cara, senti vergonha de mim mesmo pelo fato.... Não dá pra bobear não!!!! Bj
Nossa,não podemos marcar bobeira porque no ano de 2011 fui ao medico da Unicamp e lá meus exames deram positivo para a Dengue Hemorrágica. Onde também fui informada que não era a primeira vez,que já havia tido Dengue antes.Conclusão por sorte surgiu uma vaga de internação num prazo de duas horas e meia e lá fiquei internada por quatro dias. Portanto este é um problema de todos porque a Dengue não escolhe classe social, sexo ou idade.
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